Teimosia no idoso ou sintoma da demência?
Como lidar com recusa e resistência nos cuidados
CUIDADORES DEMÊNCIAS
Dra Aline Morais De Bortoli
7/28/20254 min read


"Teimosia " ou manifestação da demência?
É comum que familiares e cuidadores relatem mudanças de comportamento em idosos com demência, especialmente em relação à colaboração nas atividades do dia a dia. Muitos descrevem o idoso como “teimoso”, “difícil” ou resistente a qualquer tipo de orientação. Mas será mesmo teimosia?
Neste artigo, vamos entender o que está por trás dessas recusas frequentes, como diferenciar comportamentos que fazem parte do quadro demencial, e o que pode ser feito para tornar o cuidado mais leve e eficaz.
Recusas comuns no dia a dia do cuidado
Entre as situações mais relatadas por familiares estão:
Recusa em tomar banho, alegando que já se lavou ou que está com frio
Negativa para tomar medicamentos, dizendo que “não precisa” ou “ está envenenado”
Resistência para trocar de roupa, mesmo quando está suja ou inapropriada para o clima
Rejeição a alimentos, mesmo os de costume, por dizer que “não está com fome” ou que “está estragado”
Falta de colaboração para sair de casa, ir a consultas ou realizar exames
Reações agressivas ou irritabilidade diante de abordagens simples
Em muitos casos, o idoso diz “não” para tudo — e o cuidador se vê diante de um impasse e estresse.
O que está por trás da resistência?
Na demência, o cérebro sofre alterações que comprometem o julgamento, a memória recente, a flexibilidade de pensamento, o humor e a compreensão do que está acontecendo ao redor.
Por isso, o que parece “teimosia” pode ser:
Desorientação: o idoso pode não entender onde está ou o que está sendo pedido
Medo ou insegurança: mudanças na rotina ou no ambiente geram angústia
Dor ou desconforto: que ele não consegue expressar em palavras
Perda de autonomia: a recusa pode ser uma tentativa de manter controle sobre algo
Alterações de humor e personalidade: comuns em várias formas de demência
Essas respostas não têm a intenção de provocar ou afrontar o cuidador. Mas são sim, reflexos das transformações neurológicas causadas pela doença.
Como conduzir o cuidado melhorando a comunicação e diminuindo conflitos?
Lidar com a resistência exige paciência e adaptações. A seguir, algumas dicas práticas com exemplos do dia a dia:
1. Evite discutir ou corrigir
Corrigir ou confrontar o idoso com a realidade pode aumentar a irritação.
Exemplo:
Se ele diz que já tomou banho, mesmo sem ter tomado, evite discutir, dizer que ele está sujo, ou outras afirmações que possam ofendê-lo.
Tente: “Vamos só refrescar um pouco para você se sentir melhor?”
Ou use um pretexto leve: “Tem um sabonete novo que eu queria você usasse…” ou "hoje vamos receber uma visita ou ir à consulta médica" ou ainda "Me ajude a lavar o banheiro"
2. Ofereça escolhas simples
Dar opções dá ao idoso uma sensação de autonomia, reduzindo a resistência. Faça com que ele tenha a sensação de estar tomando a decisão e não o obedecendo.
Exemplo:
Ao invés de dizer “Vamos tomar banho agora”, diga:
Tente: “Você prefere tomar banho antes ou depois do café?”
Ou: “Quer colocar a camisa azul ou a branca hoje?”
3. Mantenha uma rotina
Horários previsíveis ajudam o idoso a se sentir seguro e reduzem confusão.
Exemplo:
Estabeleça horários fixos para as refeições, banho, descanso e medicação.
Evite mudanças bruscas na ordem das atividades.
Dica: use quadros com figuras ou avisos visuais simples no ambiente.
4. Valide os sentimentos
Mesmo que a reação pareça exagerada, acolher o sentimento acalma e fortalece o vínculo.
Exemplo:
Se o idoso está irritado ou se recusa a sair de casa, evite frases como “Isso não faz sentido”.
Tente: “Eu entendo que isso está te incomodando, vamos fazer tudo com calma.”
5. Reduza distrações no ambiente
Ambientes barulhentos ou confusos dificultam a concentração e aumentam a irritabilidade.
Exemplo:
Durante o banho, evite rádio ou TV ligados.
Durante a alimentação, reduza o número de pessoas falando ao mesmo tempo.
Dica: manter o ambiente calmo facilita a comunicação e reduz conflitos.
6. Dê um tempo e tente depois
Se houver recusa, evite insistir no momento. Mude o foco da conversa e tente mais tarde.
Exemplo:
Se ele não quiser tomar o remédio, converse sobre algo que ele goste (fale sobre uma boa lembrança, sobre pessoas da família, uma comida preferida), e retome o assunto mais tarde com nova abordagem:
Tente: "Ah, agora que tomamos um suco gostoso, que tal esse comprimido para ajudar na digestão?”
7. Observe sinais físicos e emocionais
Recusas podem indicar algo que não está sendo verbalizado: dor, fome, frio, cansaço ou medo.
Exemplo:
Se o idoso se recusa a sentar ou caminhar, observe se há dor nos joelhos ou quadril.
Se está inquieto ou agressivo, avalie se precisa ir ao banheiro, se está com calor ou precisa de atenção.
8. Cuide de você também
Cuidar de alguém com demência é exigente. O cuidador precisa de suporte emocional e prático.
Exemplo:
Divida as tarefas com familiares, busque grupos de apoio, peça e aceite ajuda.
Estar exausto dificulta a paciência e a empatia — o autocuidado é parte do cuidado com o outro.
O papel do geriatra no cuidado com a demência
Com a orientação de um geriatra, é possível entender o que faz parte da evolução da doença e que pode ser modificado com ajustes na abordagem e na rotina.
Nem toda mudança de comportamento é esperada ou “normal” na demência. Algumas recusas frequentes podem indicar outras condições associadas, como infecções, efeitos colaterais de medicamentos, depressão ou dor crônica, que merecem avaliação e tratamento.
Conclusão: ajustes na comunicação podem reduzir o desgaste
Entender que a “teimosia” do idoso pode ser, na verdade, um sintoma neurológico ou emocional, muda completamente a forma de cuidar.
Com conhecimento e apoio profissional, o dia a dia pode se tornar mais leve, mais seguro e com mais conexão entre quem cuida e quem é cuidado.
Se você cuida de alguém com demência, busque orientação. Ajustes fazem diferença na qualidade de vida de quem você ama e na sua também.
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