O que o aperto de mão nos revela?

A força de preensão palmar como indicador de saúde no idoso.

Dra Aline Morais De Bortoli

5/4/20254 min read

Você sabia que a força do seu aperto de mão pode dizer muito sobre sua saúde?

Para além de uma saudação, a chamada força de preensão palmar é hoje considerada um marcador da qualidade do envelhecimento. Simples de medir, mas poderosa em seus significados, ela pode ajudar a prever desde a capacidade de viver com autonomia até o risco de doenças e mortalidade.

A força de preensão palmar é a medida da força que uma pessoa consegue exercer ao fechar a mão para segurar ou apertar algo com firmeza. Podemos estimar esta força, por meio de um instrumento chamado dinamômetro manual.

O teste é simples, rápido e não invasivo. É realizado em consultório, com o paciente sentado e segurando o dinamômetro. São feitas duas ou três tentativas de aperto com máxima força, e o maior valor é registrado.

Valores normais variam conforme idade, sexo e condições de saúde. Em geral, adultos jovens alcançam os maiores valores de força de preensão (tipicamente por volta dos 30 anos de idade), e gradualmente há uma tendência de declínio na força muscular.

No entanto, quedas muito acentuadas ou níveis de força muito baixos para a faixa etária podem ser um sinal de alerta de problemas de saúde existentes.

O que a força de preensão palmar pode indicar na prática?

A força de preensão palmar não é importante apenas para abrir potes ou dar um aperto de mão firme.

Clinicamente, ela serve como um indicador global da saúde muscular e funcional do idoso. Seria como um “termômetro” da condição física geral, ou seja, a força da mão se correlaciona bem com a força muscular de outras partes do corpo.

Se um idoso tem um aperto de mão forte, é provável que ele também tenha boa força nos braços, pernas e assim na musculatura do corpo todo.

Essa correlação com a força global faz da preensão palmar uma ferramenta utilizada para avaliar algumas condições de saúde, como a fragilidade e sarcopenia. Além disso, a força de preensão palmar tem valor prognóstico.

Pesquisas indicam que essa medida pode prever diversos desfechos em saúde. Por exemplo, idosos com a força de preensão palmar abaixo do esperado tem risco aumentado de uma pior resposta a fatores estressores, recuperação mais lenta ou complicada em cirurgias e maior tempo de internação hospitalar.

Já idosos com boa força nas mãos tendem a ter melhor capacidade funcional – ou seja, conseguem desempenhar as atividades do dia a dia com mais independência e segurança, bem como melhor recuperação em doenças agudas.

Força de preensão e qualidade do envelhecimento

Envelhecer bem não significa apenas acumular anos de vida, mas sim manter a qualidade de vida e a independência durante esses anos.

Nesse contexto, a força muscular – representada de forma prática pela força de preensão palmar – desempenha um papel crucial. Idosos com maior força de preensão geralmente apresentam melhor qualidade de envelhecimento, comparados àqueles com aperto de mão fraco.

Em termos de autonomia e funcionalidade, uma boa força de preensão permite que o idoso continue realizando tarefas cotidianas sem ajuda, desde abrir potes, carregar sacolas de compras, segurar com firmeza a barra de apoio ao subir escadas até sentar e levantar sem qualquer ajuda, mesmo em idades avançadas.

Essa autonomia nas atividades diárias está intimamente ligada à autoestima e ao bem-estar do idoso e de seus familiares. Quando a pessoa consegue se cuidar sozinha, vestir-se, cozinhar ou sair para caminhar, ela tende a se sentir mais confiante e feliz, o que reflete positivamente na qualidade de vida.

Também vale mencionar a relação com quedas e mobilidade. Embora equilíbrio e força nas pernas sejam fatores diretos nas quedas, a força de preensão reflete a robustez geral do sistema musculoesquelético. Idosos mais fortes (inclusive nas mãos) tendem a ter melhor equilíbrio e reflexos, o que reduz a chance de quedas. Menos quedas significam menos fraturas, hospitalizações e perda de independência – portanto, indiretamente, um idoso com boa força de preensão tem maior probabilidade de se manter livre de incapacidades, vivendo uma velhice com mais segurança e qualidade.

Diante de tudo isso, é que se faz importante monitorar regularmente a força de preensão palmar em pacientes geriátricos. Para familiares de idosos, vale a pena observar no dia a dia, se o idoso está ficando com as mãos mais fracas, com dificuldade para abrir um vidro de conserva, carregar uma panela leve ou segurar objetos que antes conseguia manejar bem. Essas observações cotidianas podem complementar a avaliação formal feita pelo geriatra.

A monitoração periódica permite acompanhar tendências ao longo do tempo. Se um idoso mantém sua força de preensão estável, isso é um bom sinal de manutenção da massa muscular. Já uma queda significativa de força em pouco tempo pode acender o alerta para investigação de causas, podendo ser resultado de alguma doença nova, piora de condição crônica, desnutrição ou sedentarismo excessivo.

A boa notícia é que é possível prevenir e até reverter parte dessa perda de força. Aqui vão algumas estratégias importantes:

  • Exercícios de resistência: musculação, Pilates, exercícios com elásticos ou pesos leves, mesmo em idades avançadas.

  • Fisioterapia personalizada: para quem já tem limitações, o acompanhamento profissional é essencial.

  • Alimentação rica em proteínas: ovos, carnes magras, leguminosas e suplementação quando indicada por um profissional.

  • Vitamina D e cálcio adequados: importantes para a saúde muscular e óssea.

  • Controle de doenças crônicas: tratar bem hipertensão, diabetes e outras condições que afetam músculos e energia.

Identificar precocemente esse declínio dá chance de intervenções e tratamentos, antes que a perda de força cause perda de funcionalidade.

Conclusão

A força de preensão palmar é um indicador simples, porém poderoso, da saúde do idoso. Monitorá-la e valorizá-la ajuda a detectar precocemente fragilidade e riscos, além de guiar ações para um envelhecimento mais saudável. Para quem cuida de um ente querido idoso, entender que a importância desse “aperto de mão” vai além do gesto de carinho e pode ser a chave para um envelhecimento com mais qualidade e anos de vida ativa.

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